segunda-feira, 27 de julho de 2009

Vídeo legal

Pessoal, sei que nas férias queremos esquecer que existe a escola e só pensamos em nos divertir muito. Vocês podem não acreditar, mas dá pra aprender muita coisa de modo divertido. O vídeo abaixo é prova disso. Estava perambulando pela Net e achei esse vídeo que tem muito a ver com temas que discutiremos no próximo bimestre. Vale a pena ver:
http://www.youtube.com/watch?v=lgmTfPzLl4E

quarta-feira, 20 de maio de 2009

Brasil é país de linchamentos (Estadão)

Abaixo reproduz-se a entrevista do sociólogo José de Souza Martins, concedida ao jornal O Estado de São Paulo e publicada em 17 de Fevereiro de 2008, acerca do tema Lichamento.

Flávia Tavares

No fim de semana passado, três homens suspeitos de roubo foram linchados na periferia de Salvador. No sábado, Emílio Oliveira Silva e Michael Santa Izabel, acusados de saquear residências da vizinhança, foram linchados por mais de 30 pessoas. Emílio foi morto a pauladas. Domingo, a vítima foi um homem de identidade desconhecida. Ele também foi perseguido por mais de 30 moradores, que o acusavam de roubar uma TV. Morreu no local, a 200 metros de onde Emílio e Michael foram atacados. Na noite de segunda-feira, em Ribeirão Preto (SP), o estudante Caio Meneghetti Fleury Lombardi, que invadiu um posto de gasolina, atropelou o frentista Carlos Pereira Silva e tentou fugir, sofreu uma tentativa de linchamento. Por fim, na quinta-feira, um adolescente da Fundação Casa (ex-Febem) foi linchado até a morte por outros internos, em Franco da Rocha (SP).

Foram cinco casos noticiados em 6 dias. Não se trata de uma epidemia - em nosso contexto, é algo normal. José de Souza Martins, sociólogo e colaborador do Aliás, estuda linchamentos há quase 30 anos e documentou 2 mil casos. Ele faz uma estimativa surpreendente: no Brasil, possivelmente o país que mais lincha no mundo, há 3 ou 4 casos por semana. Geralmente, nas periferias das cidades, com São Paulo, Salvador e Rio de Janeiro à frente.

A análise minuciosa de como se dão essas atrocidades é dolorosa, mas reveladora. Mais de 500 mil brasileiros e brasileiras, incluindo crianças, participaram de linchamentos nos últimos 50 anos - e quase ninguém foi punido. A seqüência de agressões vai do apedrejamento à mutilação. Não é uma questão de pura maldade: é a população agindo, equivocadamente, onde a Justiça não atua.

José de Souza Martins, de 69 anos, professor de sociologia da Faculdade de Filosofia da USP, está lançando dois livros - uma reedição ampliada de Sociabilidade do Homem Simples (Ed. Contexto) e o inédito A Aparição do Demônio na Fábrica (Ed. 34), ambos sobre a cultura operária. Na entrevista a seguir, ele discorre sobre o fenômeno do linchamento, tema que pretende, em breve, transformar em livro.
O Brasil é o país que mais lincha no mundo?

Possivelmente. Isso nos últimos 50 anos, período que minha pesquisa abrange. Não dá para ter certeza, porque linchamento é o tipo de crime inquantificável. Mesmo os americanos, quando tentaram numerar seus casos, tiveram fontes precárias. O linchamento é um crime altruísta, ou seja, um crime social com intenções sociais. O linchador age em nome da sociedade. É um homem de bem que sabe que está cometendo um delito e não quer visibilidade. Por outro lado, no Código Penal brasileiro não existe o crime de linchamento, somente o homicídio. Então, ele não aparece nas estatísticas. Os casos são diluídos. Estimo que aconteçam de 3 a 4 linchamentos no País por semana, na média. São Paulo é a cidade que mais lincha. Depois, vêm Salvador e Rio de Janeiro.

Que análise o senhor faz de um país habituado ao linchamento?

As sociedades lincham quando a estrutura do Estado é débil. Há momentos históricos em que isso acontece. Na França, depois da 2ª Guerra Mundial, quando não havia uma ordem política, havia a tonsura (a raspagem dos cabelos) de mulheres que tiveram relações sexuais com nazistas. Era uma forma de estigmatizar, para que ela ficasse marcada. O linchamento original, nos Estados Unidos, tinha essa característica.

O que configura um linchamento?

É uma forma de punição coletiva contra alguém que desenvolveu uma forma de comportamento anti-social. O anti-social varia de momento para momento e de grupo para grupo. Na França, ter traído a pátria era um motivo para linchar. No caso da Itália, aconteceu o mesmo. No Brasil, é o fato de não termos justiça, pelo menos na percepção das pessoas comuns. Nesse caso do atropelamento de um frentista em Ribeirão Preto, por exemplo, o delegado decidiu inicialmente por crime culposo (depois mudou para doloso). As pessoas que tentaram linchar o rapaz acreditavam que não haveria justiça, já que a pena seria mais leve por conta da atenuante.

Qual o perfil de quem é linchado?

Em geral, é linchado o pobre, mas há várias exceções. Há uma pequena porcentagem superior de negros em relação a brancos. Se um branco e um negro, separadamente, cometem o mesmo crime, a probabilidade de o negro ser linchado é maior.

Que criminoso é mais vulnerável?

O linchado pode ser desde o ladrão de galinha até o estuprador de criança. Sem dúvida, os maiores fatores são os casos de homicídio. Se a vítima do assassino é uma criança ou um jovem, ou se houve violência sexual, os linchamentos são freqüentes. Há muitas ocorrências por causa de roubo, especialmente se o ladrão é contumaz. Acredito que tenha sido o caso dos rapazes em Salvador. A própria população estabelece uma gradação da pena que vai impor ao linchado. Esta é a dimensão de racionalidade num ato irracional.

Como funciona essa gradação?

Um ladrão de galinha vai sair muito machucado - e pode acontecer de ele morrer. Mas o risco de ser queimado é mínimo. Com o estuprador é o contrário. Há também uma escala de durabilidade do ódio. Se um ladrão sobreviver durante 10 minutos de ataque, está salvo. Tem havido muitas tentativas de linchamento em acidentes de trânsito. Mas normalmente a polícia chega logo e evita o ataque.

Mulheres são linchadas?

É raríssimo. Nos 2 mil casos que estudei, há dois ou três em que uma mulher foi a vítima. Agora, há muitas mulheres linchadoras no Brasil. Mulheres e crianças.

Quem são os linchadores no Brasil?

Não há tanto uma divisão de ricos e pobres. De modo geral, os linchamentos são urbanos. Ocorrem em bairros de periferia. Porém, há linchamentos no interior do País, onde quem atua é a classe média. O caso mais emblemático é o de Matupá, no Mato Grosso. O linchamento foi filmado e passado pela televisão, no noticiário. Três sujeitos assaltaram o banco, a população conseguiu linchá-los e queimá-los vivos. Isso foi a classe média. E quando a classe média lincha, a crueldade tende a ser maior, porque ela tem prazer no sofrimento da vítima. O pobre é igualmente radical, porém é mais ritual na execução do linchamento.

Qual é a diferença entre um linchador cruel e um ritual?

No caso de Matupá, por exemplo, o prazer de quem linchou foi ver sofrer. Os três nem sequer cometeram um crime contra a comunidade. Já o pobre lincha quando a condição humana é violada. É uma punição sacrificial da vítima do linchamento pelas vítimas que ele causou. Isso não exclui a crueldade, mas ela é diferente. A idéia, nesses casos, é punir o corpo e a alma. Há um caso no sertão da Bahia, na região de Monte Santo. Um rapaz estupra e mata uma professora da região. Ele é preso num quartel. Naquela noite, uma pequena multidão chega de caminhão ao quartel, rende os soldados, tira o sujeito da cadeia e o leva para o local do crime. No caminho, vão mutilando o rapaz. Chegando lá, ele ainda está vivo, mas é uma pasta. O moço é queimado vivo, que é como a maior parte dos linchamentos acaba no Brasil. Ou seja, ele teve de derramar seu sangue onde foi derramado o sangue de sua vítima.Aparentemente, é um ritual de troca do sangue. Como ele derramou o de uma pessoa inocente, de uma mulher presumivelmente virgem - o que agrava a dimensão simbólica e a sacralidade do corpo violado -, ele foi queimado. Na crença popular, quem morre desfigurado por violência não encontra o caminho da eternidade. O cego, especialmente. Por isso, é comum que arranquem os olhos do linchado.

A característica ritual desses linchamentos é uma invenção brasileira?

Levantei muito material sobre os EUA, onde a cultura é protestante. Lá, o caráter ritual não aparecia. A execução de negros, por exemplo, era sumária, por enforcamento. Inclusive, depois se fotografava o linchado e produziam-se cartões-postais com essas imagens. Era um ato para mostrar quem mandava.

O linchamento já foi usado como pena instituída?

Existe uma tradição antiga de vários países, especialmente asiáticos e árabes, em que a punição para determinados crimes é o linchamento por apedrejamento. Mas reservamos o termo para o início da sociedade moderna, em que surge a figura da multidão “indiferençada”. O típico linchamento é na rua. Se há um assalto e alguém grita, forma-se uma multidão que não tem identidade. Quem passa por ali ataca. Não há planejamento.

As pessoas têm consciência do que estão fazendo?

Muitas vezes, não. E há casos comprovados disso. Um rapaz negro foi linchado na periferia do Rio e, quando a polícia chegou, havia uma velhinha da vizinhança, tipo vovozinha, com uma colher tentando arrancar os olhos do rapaz. A polícia teve enorme dificuldade para tirá-la de cima do morto. Foi preciso levá-la para o hospital e medicá-la para que voltasse a si. A multidão passa a ser outro sujeito.

Estamos todos sujeitos a participar de um linchamento?

Se você tem valores bem fundamentados, não vai participar de um linchamento. Ele envolve pessoas cuja referência social é frágil. O problema é que elas são maioria no Brasil. Estima-se que 500 mil brasileiros tenham participado de linchamentos nos últimos 50 anos. Não é um número pequeno.

Como agem os linchadores?

Inicialmente, corre-se atrás do linchado. A vítima sempre corre, mesmo armada. É tudo muito covarde, porque as pessoas não atacam com as mãos. Primeiro, estonteiam a vítima com pauladas e pedradas. Arrastar a pessoa é comum, sempre pelos pés, que é mais uma forma de degradar. O passo seguinte é a mutilação. Em caso de crime sexual, há a castração e, às vezes, ela é seguida por atos ainda mais humilhantes, como o de colocar o pênis do rapaz em sua própria boca. Por fim, queima-se o sujeito, vivo ou morto.

Esse tipo de imagem nos leva àquela velha questão: intrinsecamente, o homem é mau?

Não diria isso. Mas a camada de civilização é muito fina. Tudo o que a gente chama de civilização, esse conjunto de valores, é muito frágil. Basta um acontecimento que rompa essa seda para que o ser humano primitivo que está ali, embutido não de maldade, mas de instintos, venha para fora. Porém, mesmo na reação instintiva, há regras.

Há picos de linchamento no Brasil?

Sim. Pegando os últimos 50 anos, logo após o fim da ditadura militar, o sentimento da população era de que a ordem havia acabado e que tudo era incerto. E esse clima não acabou. Outro pico foi no fim da ditadura de Getúlio Vargas. E há um detalhe interessante. Quarta e quinta-feira são os dias de pico. Em geral, há poucos linchamentos aos domingos e segundas-feiras.

Por quê?

Provavelmente, porque nossos linchamentos são urbanos e, no meio da semana, as pessoas estão no pico do estresse, mais frágeis para resistir à tentação.

Punir quem lincha é uma forma de reprimir os linchamentos?

Quem mata tem que ser punido. Não punir significa estimular. Mas é difícil punir. Há um caso curioso no oeste de Santa Catarina, mais ou menos 20 anos atrás. Um rapaz foi linchado e levou uns 20 dias para morrer. Antes disso, conseguiu identificar 23 linchadores. Eles foram a julgamento. Os jurados absolveram 22 acusados. Só condenaram um: o mais pobre. Ele foi condenado a 7 anos de prisão. É complicado levar a julgamento, porque o júri tende a ter simpatia pelos linchadores.

Há mais casos de pessoas que foram presas por linchamento?

Sim, mas só um caso de condenação efetiva que eu conheça.

O fato de o linchamento não ser tipificado altera os números de violência no Brasil?

O número de assassinatos e tentativas de assassinato que não ocorrem por meio de linchamento é muito maior do que os que são provocados por linchamento. Então, isso não afeta significativamente os números de violência. Afeta, sim, a quantificação de linchamentos no Brasil. Há períodos em que acontecem mais e há períodos, de algumas semanas, em que nada acontece.

Quando?

No mês da Copa de 98, por exemplo, o Brasil não registrou nenhum linchamento. Poucas horas depois do último jogo da seleção brasileira, aconteceu um linchamento, que não tinha nada a ver com a partida. Isso confirma que há momentos, como a Copa do Mundo e a morte de grandes ídolos, como foi a do Ayrton Senna, em que a sociedade brasileira comunga. A desordem deixa de existir, porque há um sentimento que prevalece sobre o conjunto da diversidade e das adversidades. O Brasil só é Brasil nesses momentos.

Que papel a polícia desempenha nos linchamentos?

A polícia militar tem sido exemplar na proteção da vítima de linchamento. Inclusive, expondo-se a perigos. Às vezes, diante de evidências de que vai ocorrer um linchamento, a polícia se omite para permitir que ele ocorra. Mas, em geral, isso vem da polícia civil. Quando o delegado coloca um preso em determinada cela, pré-julga o criminoso e não o isola, ele está participando do linchamento que aquele preso pode sofrer na cadeia.

De onde vem o termo linchamento?

De um tal juiz Lynch, que atuava no oeste dos EUA, no século 18. Ele não era um juiz de verdade. As cidades que estavam nascendo ali não tinham lei. Quem violava as regras que estavam na consciência das pessoas era punido com o linchamento, que lá consistia em recobrir o corpo do fulano de betume e colocar penas de galinha nele, obrigando-o a desfilar pelo povoado, para todos saberem que ele deveria ser evitado. Era um linchamento moral e físico. No Brasil, já linchávamos no século 16. É o registro mais antigo que tenho.

Nos EUA, o linchamento esteve muito associado ao racismo. É surpreendente que, em tão pouco tempo, o país possa eleger um negro?

Os linchamentos dos EUA eram feitos principalmente entre pobres - pobres brancos linchando pobres negros. O governo Roosevelt criou alternativas para brancos e negros, com o desenvolvimento econômico. Além disso, as mulheres, que eram usadas como desculpa para linchar, fizeram um movimento lindíssimo e desarmaram a predisposição dos maridos. O último linchamento de que tenho notícia lá foi uns 10 anos atrás, de negros linchando um negro. As mudanças econômicas e as guerras, que abriram a possibilidade de um negro ser general, foram importantes. Os americanos já têm a Condoleezza Rice no governo, uma mulher muito culta. E isso abre caminho para o Barack Obama. Ainda há muito racismo, mas nada que mobilize multidões.

quarta-feira, 8 de abril de 2009

Samba-enredo da Mangueira para o Carnaval de 2009

Deus me fez assim filho desse chão
Sou povo, sou raça... miscigenação
Mangueira viaja nos brasis dessa nação
O branco aqui chegou
No paraíso se encantou
Ao ver tanta beleza no lugar
Quanta riqueza pra explorar
Índio valente guerreiro
Não se deixou escravizar, lutou...
E um laço de união surgiu
O negro mesmo entregue a própria sorte
Trabalhou com braço forte
Na construção do meu Brasil
É sangue, é suor, religião
Mistura de raças num só coração
Um elo de amor à minha bandeira
Canta a Estação Primeira
Cada lágrima que já rolou
Fertilizou a esperança
Da nossa gente, valeu a pena
De Norte a Sul desse país
Tantos brasis, sagrado celeiro
Crioulo, caboclo, retrato mestiço,
De fato, sou brasileiro!
Sertanejo, caipira, matuto... sonhador
Abraço o meu irmão
Pra reviver a nossa história
Deixar guardado na memória... o seu valor
Sou a cara do povo... Mangueira
Eterna paixão
A voz do samba é verde e rosa
E nem cabe explicação

terça-feira, 7 de abril de 2009

O Homem e o Processo de Socialização

Basta nascermos para nos tornarmos humanos? Pergunta estranha, é verdade, mas faz sentido, uma vez que a história registra casos de seres humanos que, apesar de fisicamente iguais a nós, não eram exatamente humanos, no sentido mais estrito do termo. Veja dois desses casos: “Ramu, o “menino lobo”, foi um garoto criado por uma alcatéia e encontrado por pessoas quando tinha 10 anos de idade. Criado por lobos, não teve contato com seres humanos até o momento em que foi encontrado. Não tomava banho, não se vestia, andava de quatro e se alimentava de carne crua, como os lobos com quem foi criado. Jamais aprendeu a falar e nuca deus sinais de querer se integrar socialmente.” “Amala e Kamala era duas meninas que foram descobertas em 1921 numa caverna da Índia, vivendo entro lobos. Tinham, respectivamente, mais ou menos 4 e 8 anos de idade quando foram encontradas. Ambas apresentavam hábitos alimentares bastante diferentes dos nossos. Como fazem normalmente os animais, elas cheiravam a comida antes de tocá-la, dilacerando o alimento com os dentes e poucas vezes fazendo uso das mãos para beber e comer. Possuíam aguda sensibilidade auditiva e desenvolvimento do olfato para a carne. Locomoviam-se usando as mãos e os pés, de modo quadrúpede, como os lobos. Kamala demorou seis anos para aprender a andar sobre duas pernas, isto é, de modo bípede e ereto.” Os casos citados acima são duas das mais famosas ocorrências de isolamento social de seres humanos. Diante desses casos verídicos, a lenda de que Remo e Rômulo, supostos fundadores de Roma, foram criados por uma loba não é tão absurda assim. Mas seres que agem assim, como outros animais, não são considerados exatamente humanos. Aristóteles disse que “o homem é um animal social”. Com isso, queria dizer que sem a sociedade não há humanidade, isto é, o homem necessita do contato social para tornar-se humano. É em sociedade que desenvolvemos capacidade que julgamos simples tais como nos comunicar através da fala, andar de modo ereto, escrever, ler, compreender símbolos, ter fé religiosa, fazer planos etc. Se nascemos e crescemos isolados, nada disso se desenvolve em nós. Como os casos de isolamento citados apontam, o ser humano tende a adquirir as características do grupo no qual cresce e interage. Se nasce e cresce entre lobos, de alguma forma, será um lobo também. Tal fato nos lembra o filósofo inglês John Locke, para quem “o homem é uma tábula rasa”, ou seja, uma folha em branco na qual tudo pode ser escrito. Se é assim, perguntará o leitor, o homem é mero produto de sua sociedade? Não. Ele adquire os hábitos, os valores, as crenças e tradições do grupo em que vive, mas, pelo menos em sociedades complexas como a nossa, ele possui significativo grau de liberdade em relação a tais modos de pensar e agir, podendo até contribuir para a mudança cultural de sua sociedade. Em outras palavras, o homem é produto e produtor da sociedade e da cultura. Por exemplo: você nasceu num país em que a corrupção é bastante tolerada e praticada. Diante de tal situação, você pode praticar a corrupção no seu dia-a-dia ou, refletindo sobre suas conseqüências para você e os demais cidadãos, agir de modo ético em sua vida diária e trabalhar no combate à corrupção. Todo aprendizado, toda inculcação de crenças, todo comportamento humano, nasce no processo de socialização. Socialização é o longo aprendizado que começa quando nascemos e só acaba com a morte. É por meio dele que nos tornamos humanos e membros de nossa sociedade, isto é, compartilhamos crenças, um idioma, maneiras de pensar, agir e ver o mundo que nos cerca. Ramu, Amala e Kamala, não foram socializados entre nós, assim não se tornaram humanos. A socialização (se é que podemos assemelhar a aprendizagem entre os animais não-humanos à aprendizagem que se dá entre humanos que se relacionam) pela qual eles passaram foi entre lobos, o que os fez lobos também. (Por enquanto é só)

quinta-feira, 26 de março de 2009

Ótimo texto para quem está pensando em que profissão escolher

O ensino médio vai chegando ao fim e uma preocupação vai aumentando: que profissão escolho? O link abaixo leva você a um ótimo texto de Rubem Alves sobre essa pergunta tão angustiante. Boa leitura!

http://www.releituras.com/rubemalves_decidir.asp

sexta-feira, 13 de março de 2009

Dicas para interpretar um texto

A aprendizagem de sociologia requer que saibamos interpretar textos. Infelizmente, o estudante brasileiro tem muita dificuldade em interpretar textos, principalmente os não-literários. Pensando nisso, divulgo as seguintes dicas (não elaboradas por mim) para uma boa interpretação:

segunda-feira, 9 de março de 2009

Cidadania? Que que é isso?

Cidadania isso; cidadania aquilo; construção da cidadania aqui; ataque à cidadania acolá; cidadania de tal país... É muita cidadania! Pelo menos no reino das palavras. Já na vida social tanto a “encarnação” do conceito quanto a sua compreensão são insuficientes. Esse texto objetiva ser uma introdução a uma discussão que permita um entendimento menos superficial do que é cidadania.
Cidadania tem a ver com cidade; não exatamente com esse tipo de cidade em que vivemos e sim com a civitas romana e a polis grega. A palavra, aliás, deriva do vocábulo latino civitas. É verdade, você não deve se lembrar muito do que era a civitas romana ou a polis grega. A polis era a cidade-Estado grega, isto é, uma comunidade humana, uma forma de organização política, que ocupava determinado território e se governava a si própria, isto é, não era governada por outras polis. Para facilitar, pensemos a polis mais ou menos como os países que conhecemos hoje.
Nessas cidades-Estado nem todos eram iguais. Algumas pessoas podiam fazer coisas que a outras eram negadas. Uma dessas coisas que eram privilégio de apenas uma parcela da polis era a participação na tomada de decisões importantes para a cidade-Estado. Quem podia participar disso era o cidadão, o sujeito que participava integralmente da vida da polis, ou seja, que tomava decisões que tinham a ver com poder, guerras, regras, festas, rituais religiosos etc. Em Atenas, uma das cidades-Estado mais importantes da Grécia, por exemplo, a maioria dos habitantes não era composta de cidadãos. Estrangeiros, escravos e mulheres não eram cidadãos. Na verdade, a tal Democracia Grega de que tanto ouvimos falar era uma forma de governo que excluía a maioria dos habitantes da polis. Enquanto os cidadãos se reuniam na Ágora – uma espécie de praça pública – para discutir idéias, filosofar, decidir etc, um exército de não-cidadãos estava trabalhando duro para manter a cidade-Estado de pé. E as mulheres, os escravos e os estrangeiros não podiam fazer nada que lhes desse o status de cidadãos. No caso de Atenas, para ser cidadão você tinha que nascer do sexo masculino, em Atenas, e de pai cidadão e mãe ateniense! Percebe-se que o status de cidadão dependia de fatos que não estão sob o nosso controle. Ser cidadão era fruto do acaso, ou da sorte.
Vemos que a cidadania, de uma forma ou de outra, está ligada à idéia de privilégio de uns e de exclusão de outros. Hoje, quando falamos em cidadania pensamos sobretudo na inclusão das pessoas de modo mais ou menos universal, sem aceitar que o gênero, a cor da pele ou a renda possam excluir alguém do usufruto dos direitos de cidadania. Não é porque alguém ganha muito pouco ou é do sexo feminino que não possa votar e ser votado, por exemplo. Mas, como a evolução do fenômeno da cidadania revela, cidadania é algo que não nasceu como conhecemos hoje, como está na nossa Constituição Federal. Desde a Antiguidade Clássica, isto é, dos tempos dos romanos e dos antigos gregos, a esfera da cidadania vem se ampliando, se modificando. A própria história de Roma se confunde com a da luta pela ampliação dos direitos ligados à cidadania pela plebe. A idéia que temos de cidadania é fruto dessa evolução, marcada por avanços e retrocessos ao longo da história, e mesmo hoje ela ainda está em transformação. A luta de “minorias” nos nossos dias força a esfera da cidadania a se expandir e abranger mais pessoas e novos direitos.
Cidadania é uma construção social e, antes de avançarmos para a discussão da cidadania hoje, é necessário observar o processo histórico-social de que a cidadania moderna é fruto. E é isso que vamos fazer nas próximas aulas. (Por enquanto é só)

sexta-feira, 6 de março de 2009

Mulheres se envolvem menos em acidentes com vítimas

"Mulher no volante: perigo constante". Eis o ditado que expressa uma das idéias do senso comum a respeito das mulheres: a de que elas dirigem mal. Quando eu não o usei para ilustrar o tema em aula, algum aluno o proferiu. Reparem no gênero: alunO; não alunA. As garotas geralmente protestam quando ouvem isso. E com razão, afinal há evidências de que elas dirigem melhor ou tão bem quanto os homens.
Uma pesquisa realizada pelo Denatran revela que as mulheres se envolvem menos em acidentes com vítimas.
É mais uma idéia do senso comum - como tantas outras baseadas em aparências - que está com os dias contados. Veja a pesquisa:

quinta-feira, 5 de março de 2009

O que é senso comum?






No dicionário Aurélio, encontramos a seguinte definição para a expressão senso comum: "conjunto de opiniões tão geralmente aceitas em época determinada que as opiniões contrárias aparecem como aberrações individuais."
A definição não deixa dúvidas: opiniões geralmente aceitas em época determinada. Isto significa que o senso comum varia com a época, ou melhor, de acordo com o conhecimento relativo alcançado pela maioria num determinado período histórico, embora possa existir uma minoria mais evoluída que alcançou um conhecimento superior ao aceito pela maioria. . Estas minorias por destoarem deste "senso comum" são geralmente discriminadas. A História está cheia destes exemplos. O mais conhecido é o de Galileu. Em seu tempo o senso comum considerava que a Terra era o centro do Universo e que o Sol girava em torno dela. Galileu ao afirmar que era a Terra que girava em volta do Sol quase foi queimado pela Inquisição. Teve que abjurar-se para salvar a vida. Hoje o senso comum mudou. Quem afirmar que o sol gira em torno da Terra será considerado no mínimo um louco pela maioria. Mas o senso comum não é composto apenas de noções (ou opiniões) sobre temas tão “grandiosos”. É o senso comum que nos orienta no dia-a-dia. Ele é um conjunto de opiniões, idéias, julgamentos, que nasce da experiência quotidiana. É, assim, um saber acerca dos elementos da realidade em que vivemos; um saber sobre os hábitos, os costumes, as práticas, as tradições, as regras de conduta, enfim, sobre tudo o que necessitamos para podermos nos orientar no nosso dia-a-dia: como comer à mesa, ligar a televisão, como usar o telefone... É, por isso, um saber informal, que se adquire espontaneamente, através do nosso contato com os outros, com as situações que vivemos. É um saber muito simples e superficial, que não exige grandes esforços. Mas, mesmo sendo indispensável para a nossa vida em sociedade, o senso comum não é suficiente para nos compreendermos a nós próprios e ao mundo, pois se nos basearmos nos dados do senso comum, facilmente caímos na ilusão de que as coisas são exatamente aquilo que parecem, nunca chegando a perceber que existe uma radical diferença entre a aparência e a realidade. Somos, sem perceber, levados a consolidar um conjunto de certezas, das quais achamos ser absurdo duvidar. Contudo essas certezas são questionáveis, pois se baseiam em aparências. Na vida social freqüentemente usamos essas certezas tão frágeis para explicar os fenômenos sociais, como, por exemplo, a violência, a corrupção, o preconceito racial etc. Assim, sobre a violência urbana e o crime podemos dizer que são provocados pela ambição por dinheiro, pela inveja, e nem nos passa pela cabeça que esses fenômenos têm causas sociais muito mais complexas que a simples inveja e a ambição. A sociologia, por ser uma ciência e, portanto, baseada na razão e no método científico, tem por missão compreender essas causas e ajudar o homem a entender os fenômenos da sociedade. A ciência sociológica, como podemos concluir, nos possibilita pensar os fenômenos sociais de maneira mais crítica e cuidadosa, ajudando a nos libertar do mundo de aparências do senso comum. (Fim)